quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O Condado da Ilusão

Por Jordan Campos

Uma canção perdida entre castelos e campos...
Chamavam aquele lugar de Condado da Ilusão
Do outro lado daquela fronteira diziam transformar água em vinho
E que o elixir da vida era passado aos que enfrentavam seus demônios.
Alguns dizem que é o elixir da morte.
Outros dizem que é uma salvação esperada.
Nesta época de desespero e juízo final na manchete dos papéis colados em postes velhos, fica difícil entender quem diz a verdade.
Só o vinho ajuda a esquecerem que não se nasce apenas para morrer, por ali.

Cheguei lá, como um viajante, missionário... em busca de uma vida melhor.
Em busca da tranqüilidade, de um Amor verdadeiro, de algumas respostas tolas para perguntas verdadeiramente importantes.
Para finalmente começar a viver
Eu já sabia que o que é bom não vinha fácil, e de certa forma amava aquilo.
Uma voz dizia que é preciso ter paciência e me pedia para assumir as conseqüências dos meus atos.
“Morrer é que é o crime” – dizia ela!
Minhas pupilas estavam dilatadas.

Me perguntam como não querer enriquecer num lugar onde as ruas são de “ouro”.
Eles fizeram as malas;
Abandonaram as suas famílias;
E descobriram não haver mais nada no Condado da Ilusão.
Só viam fantasmas...
E eu me revoltei em um instante e fui procurar olhar nos olhos de quem havia enganado tanta gente.
Quis ir direto ao senhor do Condado...
Não podia mais ver as pessoas nadarem na areia a rezar por um pouco de água benta
Para lavar os falsos pecados impostos às suas mãos.
Aqui no Condado da Ilusão a promessa secou.
Aqui ninguém mais chora
E ninguém iria sair dali vivo.

Seres estranhos amarraram-me e foram me entregar ao senhor do Condado.
Meu sangue só corria naquelas veias por falta de opção e fitei os olhos daquele Ser.
Eu me fiz a própria poesia, metido a poeta desmedido.
- Poesia sim, poema não – falou o senhor do condado – quem é você para vir ter comigo alguma palavra? Entrou aqui por que quis!
- Sou o além, e também um dos pontos da reticência – disse - E um conjunto de todas as interjeições... Um pleonasmo eufêmico conjugado na neologia do futuro do pretérito.
- Eu sou forte como um grande touro – rebateu irritado.
- Touro de cristal – completei.
- Sou gigante como o oceano de águas – empolgou-se.
- Da água entupida do meu chuveiro – provoquei.
- Contempla-me em jogo de palavras? Assim apenas que me chega?
- Sou a sua contradição com final feliz. Sabe aquela peça difícil do quebra-cabeça? Um quebra cabeça do céu... Todo azul com doze mil pedaços. Sou Eu. O próprio Homem-Sol, que adora tempestade. Um rascunho inacabado, numa prancheta desnivelada. Uma pessoa sem médios. Graves ou agudos, apenas. Todos os pronomes reunidos. Um codinome. Sou a permissão velada, a proibição do nada. Tenho as mãos pesadas dos que não deixam opção. E o sorriso leve dos que não estão muito aí. Simplesmente uma paixão sem rota de fuga. Um híbrido, índigo, E.T. ou qualquer genérico permitido que possa compreender. Sou o aposto. O oposto. O Ás de Ouro ou o coringa escroto. Sou a saída sutil do cheque-mate. Sou a entrada pela janela do banheiro. O ácido láctico do músculo eufórico. O abismo que dá aqui agora.
- Sua vida acaba agora – ameaçou.
- Você agora sabe quem sou, mas não o que posso fazer! – retruquei.

Acordei suado...
Implorei às nuvens que chovesse, rezei por água a noite toda.
Para apagar o fogo em minhas veias, minha alma parecia estar em chamas
Você passa a vida toda esperando e rezando por recompensas...
E só o medo lhe guia na hora exata de sempre. Chega, chega disso!
Às vezes, parece que a recompensa o faz se sentir como uma dama da noite que vende seu corpo.
E Ela só precisava de amor.
No Condado da Ilusão.
Amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário